Experimental

  • Arquivo
  • Random Beauty
  • Memórias
  • Sobre
  • 065

    Santo António

    2024

    A intervenção na Quinta de Santo António do Prado remete para a ideia de permanência — de um tempo longo, sedimentado na paisagem. Antigo aglomerado rural, este lugar acolheu durante décadas uma pequena comunidade de agricultores. No extremo norte, destacam-se duas casas senhoriais em aparelho de pedra, ladeadas por anexos de diferentes escalas, épocas e funções: currais, armazéns, estufas improvisadas — testemunhos de um crescimento orgânico e funcional, moldado pelas necessidades do quotidiano.

    Nos anos 90, o conjunto foi abandonado. A ação do tempo, as intempéries e sucessivas ocupações irregulares degradaram profundamente as construções.

    A proposta atual é uma recuperação crítica, que reconhece o valor do lugar e da sua história. Mais do que reconstituir, pretende-se revalidar. Definem-se caminhos e arruamentos, redesenham-se os acessos e transições, mantendo a aura rural e discreta do sítio. As materialidades são mantidas — pedra, madeira, rebocos tradicionais — aplicadas com técnicas locais e com atenção às morfologias construtivas existentes. A intervenção minimiza a pegada ecológica, priorizando a adaptação sobre a substituição.

    As casas maiores são reconfiguradas em pequenas unidades de alojamento para visitantes; os anexos desqualificados são demolidos; os antigos currais convertem-se em equipamentos de uso coletivo. No limite sul da propriedade, com vista para o Douro, nasce um pequeno parque de campismo integrado na paisagem, discreto e silencioso.

    Hoje, como ontem, o lugar permanece. Mas os tempos são outros — e a renovação é também um gesto de reencontro e ressignificação.