Experimental

À entrada da Foz do Porto, uma antiga casa burguesa de topo foi alvo de uma intervenção que procura conciliar a preservação da memória urbana com uma leitura atual do habitar. As fachadas principais foram integralmente mantidas, respeitando o carácter arquitetónico do edifício e a sua relação com o tecido envolvente. No entanto, o interior foi profundamente transformado para responder a novos modos de ocupação.

O programa distribui-se agora em diferentes escalas e intensidades: os pisos inferiores acolhem uma loja de rua e pequenos estúdios, voltados para um regime de arrendamento temporário ou habitação compacta. No topo, foi acrescentada uma penthouse duplex. Esta nova peça sobressai não apenas pelo recuo estratégico em relação à fachada, mas também pela linguagem distinta — feita de aço exposto, superfícies lisas e cortes francos no volume que definem terraços e grandes vãos.

Os materiais usados nas novas intervenções não tentam imitar o antigo, antes afirmam a sua própria temporalidade. O aço, o vidro e o betão aparente contrastam com as cantarias trabalhadas, as guardas de ferro forjado e os azulejos tradicionais ainda visíveis na base do edifício. Estes cortes e adições funcionam como incisões cirúrgicas no corpo da casa, revelando camadas e simultaneamente abrindo o espaço à luz e à paisagem da foz.