Experimental

Num terreno sereno, uma casa reencontra-se com o lugar através da sua própria transformação. Era uma casa de dois pisos, empilhada e fechada sobre si, que decidiu tornar-se térrea. A intervenção começou pela subtração: demoliu-se o volume superior e preservaram-se as estruturas em pedra existentes — fundações silenciosas de uma nova narrativa.A nova casa assenta num só piso, abraçando a topografia com humildade e leveza, como se quisesse desaparecer na paisagem. Pensada como refúgio de fim de semana, é despojada de artifícios e fiel à essência do habitar.

Analógica, simples, direta. Sem tecnologias intrusivas ou equipamentos em excesso — apenas abrigo, sombra e tempo. A cobertura de duas águas, agora em telha preta, pousa sobre a estrutura com a serenidade de quem sabe o seu lugar. As inclinações não se limitam à expressão exterior — prolongam-se sobre cada divisão, acompanhando o espaço como tectos que nunca esquecem de ser telhados. O gesto é único: um só pavimento contínuo que cobre e liga todos os compartimentos.A construção recorre a métodos locais: paredes rebocadas à tirolesa, estrutura em madeira visível e afirmada, como se se tratasse de uma tenda amarrada ao solo. A casa não se impõe, prende-se à terra — discreta, firme, enraizada.

Dois alpendres, a nascente e a poente, prolongam a casa para o exterior, criando transições habitáveis entre interior e paisagem, sombra e luz. São gestos generosos que estendem o habitar para o clima e a terra.No interior, um corredor serpenteia ao longo do edifício. Ligeiramente desproporcionado, quase silencioso, separa mas também costura os espaços — evocando a memória distante de um hotel rural. Um gesto contínuo que define o ritmo da casa, onde habitar é também caminhar, ver, parar.

Mais do que uma casa, é uma reconciliação com o lugar. Um abrigo leve construído sobre os ossos de uma presença anterior — uma pausa permanente que escolheu a contenção como forma de permanência.