Experimental

Implantada numa zona de grande dinamismo e transformação da cidade, a proposta situa-se num ponto de transição entre diferentes malhas urbanas — uma de carácter industrial e outra de carácter residencial consolidado. Esta dualidade morfológica e funcional assume-se como premissa estruturante do projecto.

Para além do contexto urbano, o local apresenta ainda uma dimensão patrimonial relevante: a presença de ruínas de antigos armazéns. Não se trata de património monumental, mas sim de uma herança material ligada ao trabalho e à construção funcional e pragmática do quotidiano. Essa condição confere ao projecto um ponto de partida concreto e enraizado, que permite trabalhar a continuidade e a transformação.

A proposta procura articular, de forma consciente e controlada, diferentes escalas, usos e temporalidades. A intervenção introduz uma nova etapa construtiva que se posiciona de forma clara mas complementar à pré-existência, sem a apagar nem a replicar. Assume-se a continuidade através da diferença.

A operação tem como base a requalificação das paredes existentes dos antigos armazéns, que são mantidas e reinterpretadas. O que anteriormente funcionava como limite entre espaço público e espaço privado é agora ressignificado como elemento mediador. As paredes existentes passam a definir uma transição entre diferentes graus de exposição do espaço público — de um lado, a rua e o tecido urbano; do outro, pátios de acesso e zonas comuns de uso mais reservado.

Desta forma, o novo conjunto habitacional na Rua do Beato constitui-se como uma resposta contextual e sensível, que integra ruína, cidade e habitação num sistema coerente e operativo.